terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A coragem feminina na reconstrução de uma cidade mais humana e integrada com a Natureza

A calamidade que se abateu sobre a Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro vem sendo construída pela própria sociedade desde há alguns anos. Refiro-me aqui desde o aquecimento global até as ações pessoais de cada indivíduo e que fazem parte de todos os fatores que contribuíram e ainda contribuem para tanta destruição.
As grandes precipitações de chuvas não são inéditas nessa região e são perfeitamente explicáveis por uma série de consequências naturais do clima e da geografia da própria localidade. O diferencial desses últimos tempos é o grande índice de água que se precipita de uma só vez.
O exemplo de Cubatão, durante os anos 80, onde a maior vilã da desgraça foi a poluição, os fatos se repetem na Região Serrana do nosso Estado. Segundo estudos e palestras ministradas pelo presidente da Fundação Natureza, Dr. Aristoteles de Queiroz Filho, recentemente falecido, a Região Serrana, principalmente Nova Friburgo, manifesta todos os tipos de poluição e que se apresentam em um aumento alarmante nesses últimos anos. Podemos aqui exemplificar algumas que são facilmente identificáveis como: O aumento do tráfego urbano e rural; o descarte indiscriminado de todos os tipos de lixo; a má utilização do solo para moradia e agricultura em áreas de risco; o comprometimento do ar pelas queimadas nas montanhas e pela queima de lixos tóxicos seja das grandes, médias ou pequenas indústrias; o desmatamento nas áreas de nascentes e o despejo de esgoto doméstico e industrial nas águas de córregos e rios e o grande avanço de construções irregulares nas áreas de risco.
A Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro está pagando muito caro pelo desrespeito ao meio em que vive e, como sempre, quem mais sofre são os mais pobres e, principalmente, as mulheres e seus filhos que são a maioria nas imensas filas em busca de água potável, alimentos e roupas. Essas mulheres também são a maioria nas cozinhas dos abrigos, na ajuda comunitária, na limpeza dos destroços e das ruas da cidade. Elas também contribuem imprescindivelmente nas organizações militares e civis. São as que mais ajudam e as que mais sofrem
Perdemos muitas pessoas queridas, até mesmo pessoas que também lutavam arduamente para uma região melhor, como a companheira Leni Reis que sempre participou ativamente como Presidente de Associação de Moradores de Campo do Coelho, fundadora da Cooperativa da Mulher Rural; Ativista da Fundação Natureza e Liderança Comunitária do Ser Mulher entre muitas outras ações importantes.
Perdemos pessoas, moradias e bens, mas os 56% dos habitantes da Região atingida pelas calamidades são de mulheres que não perderam a capacidade de solidariedade, persistência e vontade de reconstruir uma nova cidade nos moldes do respeito à dignidade humana e integrada à Mãe Natureza.
Por: Laura Mury - lauramury@fundacaonatureza.org.br
Laura Mury é Professora, Gestora em Direitos Humanos, Diretora do Tecle Mulher-Assessoria e Pesquisa no âmbito dos Direitos da Mulher; Presidenta do COMSEA-NF; Presidenta da Rádio Comunidade Friburgo; Coordenadora Geral da Fundação Natureza e Membro da AFI.

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